Acad. Rogério Benevento




Acad. Rogério Benevento

Especialidade:


Mini currículo:

Natural de Nova Friburgo - RJ, nascido em 29 de abril de 1937, filho de Thomaz J. Benevento e Brazilina de Araujo Benevento. Estudou no Colégio Liceu Nilo Peçanha, em Niterói e formou-se médico na Universidade Federal Fluminense - UFF -, no ano de 1964.
Pós graduado em Anatomia Patológica pela Santa Casa de Misericódia (1965) e Especializado em Anatomia pela Universidade Federal Fluminense - UFF (1984).
Professor Titular de Anatomia da Universidade Federal Fluminense
Reitor da Universidade Federal Fluminense - UFF (1978-1982)
Presidente da ASPI/UFF (2007-2009)
Faleceu em 04 de setembro de 2017.

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ENTREVISTA RETIRADA DO SITE "PRATA DA CASA UFF"

O ex-aluno da Faculdade Fluminense de Medicina, que foi professor de Anatomia, reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), diretor do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) e, atualmente, é presidente da Associação dos Professores Inativos da UFF (ASPI-UFF), Rogério Benevento nos contou em entrevista sobre seu vínculo com a universidade. Preocupado com a falta de divulgação da história da UFF, Rogério narrou suas experiências marcantes em Niterói, desde aluno até os dias de hoje: A vida no CAMPUS do Valonguinho como aluno e professor de anatomia; e como foi o seu período de reitorado e como diretor do HUAP, seus feitos e a história da Universidade Federal Fluminense a partir de seu depoimento.
De aluno a professor Prata da Casa: 

Por que o senhor escolheu estudar medicina e na UFF?
Rogério Benevento: Desde criança eu já tinha uma tendência. Minha família era muito grande. Eu tinha vários irmãos e a maioria era mulher. Eu realizava cirurgias nas bonecas das minhas irmãs, tirando aquela mola como se fosse um tumor e depois enterrava todas as bonecas. Se morria todo mundo, então, não era cirurgia, era necropsia mesmo. O tempo passou, mas eu continuei querendo fazer medicina. Meu irmão já tinha entrado para engenharia, por isso mesmo, eu pensei em fazer medicina.Na época existiam quatro universidades: a Fluminense, a Universidade do Brasil, a UERJ e a Uni-Rio. Talvez tenha escolhido a Fluminense por comodidade. Eu morava na Moreira César, então era mais perto. Por isso, só fiz vestibular para lá. Quando eu entrei ainda era Faculdade Fluminense de Medicina e quando eu me formei tinha se tornado a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFERJ). Por isso, todo mundo pensa que eu me formei pela UFRJ.Além disso, eu sempre achei que a Fluminense fosse a melhor em Medicina. Eu tinha até um colega que morava no Leblon e preferiu estudar na Fluminense ao invés da Universidade de Brasil, que era ali na Urca. O único ponto negativo era que não tinha hospital e tínhamos que ir para outros lugares praticar como a Santa Casa, Hospital do Caju, Hospital Moncorvo Filho. Mas tinha a policlínica que, inclusive, oferecia serviços muito bons.

PC: Em que ano entrou para medicina e quando se formou?
RB: Eu entrei em 1959 e me formei em 1964. Eu já estava direcionado para anatomia mesmo. Desde o primeiro ano, eu me dediquei à anatomia e continuei até o fim.

PC: Assim que o senhor conclui a faculdade, começou logo a dar aulas?
RB: Foi até antes de terminar. Eu no quinto ano já dava aula como monitor. Passei num concurso apertado, com prova prática e prova escrita. Antes não existia monitoria, a primeira turma que teve monitoria foi a nossa. Eram só seis vagas.

PC: Professor, quantos alunos tinha na turma de medicina naquela época?
RB: Eram 60 vagas por ano, mas na minha turma havia 52 alunos. As turmas e as matérias eram por ano, diferentemente de hoje que são semestrais.

PC: O senhor lembra de algum momento marcante seu como aluno?
RB: Foram dois. Primeiramente, aquele "quebra-quebra? que teve nas barcas. A multidão revoltada contra os carreteiros, que eram os donos das barcas, e os alunos todos olhando pela janela. Eu estava no segundo ano, em 1960. Foi uma correria e o pessoal começou a subir, invadindo o prédio da Medicina para fugir da polícia. Alguns alunos até aderiram ao movimento e foram até o Fonseca, onde os carreteiros tinham outra propriedade. Niterói praticamente parou. Ficamos uns dias sem aula.O outro, que foi o mais sério de todos, foi o incêndio do circo. Eu estava no terceiro ano. Aconteceu em 1961, quando o Hospital Antônio Pedro, que ainda era da Prefeitura, estava desativado e só funcionava a parte da emergência. O diretório acadêmico resolveu tomar o Hospital. Foi uma pressão a mais ao diretor da faculdade, Rocha Lagoa, para que o hospital virasse universitário. Nós ficávamos fazendo piquetes na entrada, de onde hoje é o pronto-socorro, para evitar a entrada de doentes. Só entrava doente muito grave. Foi em um domingo que ocorreu o incêndio e os alunos e professores tomaram a iniciativa, se mobilizaram junto com a população, para atender os feridos. Foi um dos dias mais tristes que eu vivenciei em Niterói. Faltava tudo no hospital.Através desse incidente, o governo começou a dar mais verba para o Hospital. Surgiu o centro de queimados, que até então não existia. Em 1965, o Hospital passou então para a universidade. Depois veio a grande reforma do Hospital.

PC: O senhor virou professor assim que se formou, em 1964?
RB: Justamente, eu me formei antes da minha turma, em novembro, para poder me tornar professor de Anatomia. Na época, se chamava auxiliar de ensino.

PC: Então, o senhor se dedicou a vida inteira ao ensino. Nunca clinicou?
RB: Não. Fazia Anatomia Patológica. Como patologista, fiquei analisando lâminas e fazendo necropsias. Também dava aulas na Anatomia Patológica.Minha especialidade era aparelho locomotor. Os ortopedistas e outros clínicos iam me visitar na universidade e nós fazíamos um grupo de trabalho para discutir os casos, principalmente tumores ósseos que são muito difíceis. Tinha também um grupo só de oftalmologia e de otorrino. Dessa forma, a Anatomia passava a ser o centro para todas as especialidades.

PC: Em 1968, ocorreu a separação das faculdades. O que modificou na sua área?
RB: Com a nova Lei de Diretrizes e Bases, que criou o Ciclo Básico e o Ciclo Profissional, além de instituir o sistema de créditos, foi criado o Instituto Biomédico na antiga Faculdade de Medicina. Com isso ocorreram alguns problemas. A Faculdade de Veterinária, por exemplo, tinha um anatômico espetacular antes. O nosso anatômico era pequeno, só tinham duas salas de dissecção, e dávamos aulas para Medicina, Odontologia e Enfermagem. Quando o sistema de créditos começou a expandir a faculdade, o anatômico começou também a ser utilizado pela Veterinária. Houve, então, uma reação contra a criação do Biomédico, porque teriam que ter vários cursos em um lugar pequeno.Próximo deste período, também ocorreu algo de positivo para a nossa área, e não foi só na UFF. Houve uma mudança na nomenclatura Anatômica, e quem fez a introdução no Brasil fui eu, e a partir disso começamos a usar o livro do Gardner. Chegou uma época em que o Brasil inteiro adotava o Gardner. A tradução desse livro foi feita por mim. Quando eu era reitor fui lá no Ceará, e todo lugar que eu ía queria ver o Anatômico, e foi uma festa que me fizeram... o camarada que traduziu o Gardner, Há 3 anos atrás fui convidado a dar uma aula na Universidade em Manaus, e eu me senti um dinossauro que estava chegando e aquela criançada me pedindo autógrafo...

PC: Além das Salas de Aula (Título 2ª parte)
Em 1978, você foi convidado a ser reitor. Como foi essa experiência?
RB: Primeiro, fui chefe de departamento e participei do conselho universitário. Em 1972, entrei para a Comissão Permanente de Trabalho, que era diretamente ligada ao MEC, que era responsável pelo pagamento da gratificação de Dedicação exclusiva para professor e monitoria, na época. Em 1976, fiz parte da lista sêxtupla para as eleições de vice-reitor da UFF e fui escolhido. Em 1978, foi feita a lista sêxtupla pra reitor e era quase que óbvio que o vice entrava na lista para reitor. Eu não queria muito, mas eu fui nomeado reitor. O Geraldo¹, o antigo reitor, tinha iniciado no mandato dele o Plano Geral de Desenvolvimento (PGD) da UFF, que consistia em determinar as necessidades de cada Unidade de Ensino. Foi feito um livro e esse foi aprovado pelo Conselho Universitário. Já nesse reitorado, muitos campi tiveram seus prédios reformados e alguns quase refeitos. Quando assumi, por já estar engajado nesse PGD, como vice-reitor, decidi dar continuidade.¹ Geraldo Sebastião Tavares Cardoso (1974-1978)

PC: Durante seu reitorado, qual feito o senhor considera o mais importante?
RB: Conseguir a verba para a construção do campus do Gragoatá e de parte do campus da Engenharia. Foi uma verba de quase 40 milhões de dólares. Por causa da ditadura, toda a área social era renegada. As obras foram feitas no reitorado do Raymundo², eu consegui o dinheiro, mas ele manteve o projeto de construir o Gragoatá. Fui falar com Figueiredo umas três vezes para exigir a entrada da Fluminense em um plano nacional de desenvolvimento, que não contemplava as faculdades do Sudeste e Sul.
Ainda, durante meu reitorado ocorreriam inúmeras invasões de militares durante as aulas no campus do Valonguinho. Foi então que decidi ir a prefeitura transformar a Rua São Paulo, rua interna do campus, em propriedade do MEC. Dessa forma, pude construir o portal de entrada para o campus e cercá-lo. Assim, eu consegui impedir essas ações dentro da universidade. Hoje, ninguém conhece a verdade sobre aquele portal, pensam que é apenas uma grade, mas ele tem muito valor simbólico para mim.² José Raymundo Martins Romeo (1982-1986 e 1990-1994)

PC: Você foi indicado pelo reitor da UFF, Cícero Mauro Fialho, a entrar na diretoria do HUAP em 2000. Como foi estar na administração do HUAP durante um período tão conturbado?
RB: Quando eu fui reitor o hospital era considerado um dos cinco melhores do Brasil. Eu baixei um decreto que impedia a entrada de médicos e alunos de outras faculdades na emergência. Eu só contratava professores para o hospital. Afinal, esse é objetivo do hospital universitário, ensinar os alunos da UFF através da prática ensinada por professores. Mas desde que eu saí, essa prática de contratação de professores não foi mantida. Em 2000, o reitor Cícero veio falar comigo, pedindo que eu fosse pra direção do HUAP alegando que ele iria ser fechado. Quando entrei na diretoria, resolvi criar um sistema com diversos serviços. Esses serviços foram chefiados pelos professores e o corpo seria novamente constituído por professores. Assim, tudo começou a melhorar. O hospital estava em um estado terrível quando eu cheguei, com obras inacabadas e a farmácia e o almoxarifado não tinham remédios. Essas foram as primeiras providências. Antes eram os pacientes que tinham que comprar seus próprios remédios.

PC: ASPI-UFF foi fundada em 1992. Qual foi a sua principal função? Há quanto tempo o senhor está na presidência?
RB: Eu fui um dos fundadores. Na época do Collor, muitos professores se aposentaram então eu e alguns amigos fundamos a ASPI para manter o vínculo com a UFF. O reitor Raymundo nos estimulou muito, nos cedendo o espaço e a infra-estrutura. Estávamos todos perdidos assim que saímos da universidade. A função da ASPI no início era dar suporte à UFF, e dar assistência aos antigos professores. Na presidência estou apenas há um ano, mas eu sempre ocupei algum cargo importante, nada muito grande porque eu nunca gostei de ficar liderando.


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