Pedro Luciano Victor Pestre




Pedro Luciano Victor Pestre

Especialidade:

Acadêmico Patrono

Cadeira: 35

Patrono: destinado a Seção de Medicina Cirúrgica


Mini currículo:

Chamado "Um Médico do Povo". "Darei gratuitamente ao indigente o meu auxílio e nunca obrigarei a maior paga do que meu trabalho mereça". Luciano Pestre, modesto médico do bairro do Fonseca, em Niterói, que ali clinicou durante 32 anos, cumpriu fielmente este preceito do Juramente de Hipócrates. Extremamente bondoso, preciso no diagnóstico e na terapêutica, reuniu numerosa clientela, constituída, na sua maioria, de gente pobre. Sem preocupações outras senão a de assisti-la bem, não fez carreira acadêmica, não escreveu trabalhos científicos e nem apareceu, com frequência, nas tribunas nas sociedades médicas. O amor à profissão, o devotamento à clientela, transformaram sua vida em monótona rotina que ele exercitava com alegria. Cedo, às 7 horas, já estava no consultório, ao lado da farmácia de que era proprietário. Atendia e examinava minuciosamente a todos que o procuravam, crianças, moços e velhos, com muita delicadeza e bondade. Examinados, instruídos e confortados, retiravam-se, portando receitas, muitas delas assinaladas com o timbre convencional, para que o farmacêutico não as cobrasse. Às onze horas, almoçava na sua residência, ao lado da farmácia. Em seguida atendia aos chamados, em domicílios. De bolso cheio de pequenos recortes de papel, com os endereços dos doentes, anotados na farmácia ou em casa, pelos familiares, percorria a pé - no sol ou na chuva - ruas, vielas, becos e ladeiras e aí, nas residências humildes, os examinava e os animava, transmitindo a todos a fé, a convicção no êxito do tratamento, êxito sempre desejado mas nem sempre alcançado. Prosseguia a jornada, retornando ao consultório onde já o esperavam muitos outros enfermos, aos quais dispensava a mesma atenção, a mesma fidalguia, a mesma fé no sucesso da terapêutica prescrita. Finda a última consulta, jantava e saía para desempenhar nos Correios C Telégrafos da Praça 15 de novembro do Rio de Janeiro, suas obrigações de telegrafista. Os pequenos vazios dessa tarefa despretensiosa, mas cheia de sabor para seu espírito, ele os, enchia, lendo as revistas médicas francesas que recebia assiduamente.

Nessa tarefa, tão do seu agrado, consumiu toda a Vide médico. Vida médica inexcedível na bondade e na obediência aos ditames da ética.

Conhecia suas limitações. Por isso nunca ousou a ultrapassá-las, pondo em risco a oportunidade da cura ou a vida dos clientes. Tratava-os, e os tratava bem, enquanto tinha consciência de que seus males se circunscreviam ao domínio do clínico geral. Fora isso, os encaminhava para as clínicas especializadas ou para os hospitais.

Viveu até 1955. Teve portanto, o desprazer, como muitos outros de igual estirpe o têm, de presenciar o início do desprestígio e a crescente corrosão que vem ferindo, com indisfarçável gravidade, a profissão que ele tanto honrou, servindo-a com desprendimento, caridade, abnegação, gosto pela cultura, respeito intransigente à dignidade dos enfermos e à ética profissional.

Preservando, cultuando estas virtudes, tornou-se exemplar entre os colegas, admirado e venerado pelos clientes, pois que são eles que elevam o médico e fazem dele o melhor e mais dedicado servidor da medicina e dos enfermos, quer sejam ricos ou pobres, honrados ou ladrões, nobres ou párias, heróis ou covardes. Eis porque o povo não o esqueceu e o imortalizou no eterno busto de bronze colocado defronte de sua residência e em cujo pedestal escreveram:

 

DR. LUCIANO PESTRE

O médico dos pobres

Homenagem do Povo

 

As musas, também, o consagraram. O inspirado poeta fluminense Renato de Lacerda fez-lhe o perfil:

 

DR. LUCIANO PESTRE

Da pátria de Racine procedente,

em terras do Brasil foi diplomado;

é médico bondoso e competente,

aos seus doentes sempre dedicado.

 

Da vida foi um lutador valente,

cujos feitos, honrando o seu passado,

aureolam de glórias o presente

- corolário de nobre apostolado:

 

De corpo atarracado e juventude

d´alma a eclodir em toda a plenitude,

exalta esse esculápio a sua beca...

 

É tão vibrante a sua caridade,

que o povo desta intrépida Cidade

o chama de "Irmã Paula" do Fonseca!

 

Pedro Luciano Victor Pestre, ou seja Luciano Pestre, como ficou conhecido, nasceu no Departamento das Ardenas, norte da França, a 18 de outubro de 1884, sendo filho de Victor Pestre, tenente engenheiro do Exército Francês, e de sua esposa D. Agate Pestre. Chegou ao Rio de Janeiro, vindo de Antuérpia, pelo vapor "Lipzig", em janeiro de 1891. Seguiu, neste mesmo ano para São Roque, Distrito de Parati, donde retornou, no ano seguinte, passando a residir no subúrbio de Engenho de Dentro - Rio de Janeiro. De 1892 a 1896 - primeiros anos em que aí morou - fez o curso primário em um grupo escolar do Meier. Em 1896, mudou-se para Barra do Pirai e pouco tempo depois, em 1897, já se encontrava em Palmira (Santos Dumont). Dali, retornou ao Engenho de Dentro, em 1898, mudando-4 se, no ano seguinte, para Niterói, onde viveu o resto d sua vida, ou seja, 56 anos.

Nesta capital, ingressou na Companhia de Gás, tendo trabalhado como operário, chefe dos acendedores gás e auxiliar de escritório. Casou-se, em 1909, com a professora Rosa Pereira de Souza, filha de João Pereira de Souza e de D Maria Francisca de Souza. Do consórcio nasceram quatro filhos: O primeiro morreu muito, cedo; o segundo, Victor, médico da turma de 1934 d Faculdade Fluminense de Medicina, hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, colou grau a 30 de dezembro desse ano e faleceu a 19 de setembro do ano seguinte, vítima de apendicite supurada; O terceiro, Renê, advogado, Primeiro Procura-, dor dos Feitos da Fazenda do Estado do Rio de Janeiro, faleceu em 18 de janeiro de 1968; o quarto, Darcy, único sobrevivente, é Coronel Veterinário do Exército.

Em 1914, ingressou como funcionário do Departamento dos Correios e Telégrafos pelas mãos do Coronel Lindolpho Fernandes.

Fez os preparatórios no Colégio Briggs de Niterói, onde teve como professores, entre outros, Alberto Guilherme Briggs, Eduardo Silveira e Edésio Silveira. Estimulado e auxiliado pelos colegas e amigos, Frederico Vieira da Rocha, Murilo Pires, Hugo Dias, Salomão Cruz e Odorico Mululo da Veiga, matriculou-se, em 1916, na Faculdade de Medicina do Rio de Jane),o e nela formou-se, em fins de ano de 1921. Durante o curso médico foi interno da à Enfermaria do Hospital da Santa Casa de Misericórdia, sob a chefia do professor Augusto Costalat, e interno, por concurso, da Assistência Pública do Rio de Janeiro, tendo servido no Posto do Meier durante um ano e três meses. Foi um dos 56 idealistas que fundaram a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Niterói, em 14 de agosto de 1929, que se transformou em Associação Médica Fluminense em 12 de julho de 1952. Trabalhou como médico na 9ª Enfermaria do Hospital São João Baptista, sob a chefia do seu amigo Dr. Odorico Mululo da Veiga. A convite deste chefe e amigo, ingressou no Serviço de Tisiologia da Policlínica da Faculdade Fluminense de Medicina, fundado e dirigido pelo Professor Mazzini Bueno. Neste Serviço, trabalhou graciosamente e com apostolar dedicação, tratando dos tuberculosos.

"Homem correto e de notória honradez - escreveu seu colega, amigo e biógrafo, Dr. M. Pires de Mello - não conseguiu fazer fortuna, apesar de clinicar arduamente durante mais de 30 anos. Por tudo isso, quando faleceu em 19 de março de 1955, foi glorificado pelo povo do Fonseca, por seus amigos e inúmeros clientes, todos chorando sentidamente a perda irreparável que sofreram."

 

Biografia escrita pelo Acadêmico Lourival Ribeiro da Silva.


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