Francisco de Almeida Pimentel




Francisco de Almeida Pimentel

Especialidade:

Acadêmico Patrono

Cadeira: 32

Patrono: destinado a Seção de Medicina Cirúrgica


Mini currículo:

É com a maior emoção que me dirijo a todos os presentes para dizer da minha imensa alegria, da minha grande honra e com a humildade de quem reconhece a benevolência da digna comissão julgadora desta casa, pela inclusão de meu nome dentre tantos outros de i acadêmicos que compõem esta Academia.

Minha alegria foi maior quando da escolha dos patronos.

Por uma deferência especial das comissões de acadêmicos fundadores, coube ao colega Mário Duarte Monteiro escolher em primeiro lugar o seu patrono, entretanto, num gesto de gentileza e amizade, ainda talvez, pelo destaque transitório do cargo que eu desempenhava na época como presidente da Associação Médica Fluminense, Mano Monteiro, movido pela sua bondade e pela amizade que nos une, resolveu, sabendo de antemão, da admiração e do respeito que sempre me inspirou o professor Francisco Pimentel, patrono da cadeira n° 32, sabendo da minha convivência de aproximadamente 28 anos com aquele mestre amigo, resolveu homenagear-me, escolhendo para meu patrono Francisco Pimentel.

Homologada a escolha de meu nome para ocupar a cadeira nº 32, cujo patrono é o insigne, o dinâmico, o humano, o inteligente, o admirável professor Francisco Pimentel, fiquei muito honrado e sensibilizado.

Naquele momento, assumi um compromisso, senhor presidente, de que, quando falasse nesta casa a respeito de meu patrono, antes deveria fazer um agradecimento todo especial àqueles acadêmicos que ajudaram a criar nossa Academia. Tive a honra, durante minha gestão como presidente da Associação Médica Fluminense, de participar da Academia Fluminense de Medicina, graças a ideia de Carlos Tortelly Costa e de Francisco de Almeida Pimentel seus verdadeiros criadores entregando a Newton Porto Brasil, presidente da Associação Médica Fluminense e que me precedeu, os estatutos da Academia a ser criada. Por motivos de força maior Newton Porto Brasil não pôde criá-la, cabendo-me essa honra.

Além de Francisco Pimentel, Carlos Tortelly Costa, Newton Porto Brasil, outros nomes desejo mencionar uma vez que fizeram parte das comissões que elaboraram os Estatutos, o Regimento Interno e a Escolha dos Patronos e dos Acadêmicos. São eles: - Mano Duarte Monteiro, Eduardo Imbassahy, Eduardo Chead Kraichete, Waldenir de Bragança, Paulo Cezar de Almeida Pimentel, Everaldo Marques dos Santos, Nadir Coelho, Octavio Lengruber e Antonio Jorge Abunahman.

Gostaria de abraçar um por um, porém, como não me é possível fazê-lo, abraço um acadêmico simbolicamente em nome de todos os demais, um acadêmico que realmente fez valer a sua especialidade, fez nascer a Academia e conduziu-a durante os primeiros passos - Carlos Tortelly Costa.

Senhor Presidente, minhas senhoras e meus senhores meus caros colegas.

Francisco de Almeida Pimentel - Patrono da Cadeira nº 32 da Academia Fluminense de Medicina e também seu criador, figura humana das mais queridas, merece de todos nós uma reverência à sua memória por tudo que fez em prol da medicina e dos doentes.

Professor e amigo, que transmitia sempre o melhor e mais perfeito conhecimento da arte médica a quem quisesse aprendê-la, médico humanitário, pai bondoso, companheiro de todas as horas, mestre respeitado pelo saber que sempre o colocou em lugar de desta- que, entre seus colegas e entre os amigos de diferentes profissões, político, artista, poeta de grande sensibilidade, profundo conhecedor de nosso idioma, cuja inteligência e saber fizeram-no uni dos homens mais admirados e respeitos de nossa cidade e de nosso Estado.

Francisco Pimentel nasceu a 13 de janeiro de 1904 na rua Octavio Carneiro, nesta cidade, no bairro de Icaraí. Era filho de Maria Luiza de Almeida Pimentel e de Antonio Pedro Pimentel.

Seu pai foi fundador da Faculdade Fluminense de Medicina e um dos mais conceituados médicos de sua época, tendo seu nome perpetuado no maior hospital de Niterói - o Hospital Universitário Antonio Pedro.

Francisco Pimentel era irmão de Aydano de Almeida Pimentel, médico anestesista já falecido e que, apesar de ser o irmão mais velho, fora seu aluno em face da interrupção de seus estudos.

Irmão de Paulo Cezar de Almeida Pimentel, professor catedrático de Oftalmologia, nosso colega nesta Academia.

Irmão do engenheiro José Eduardo Pimentel.

De seu primeiro matrimônio com Da. Clelia de Freitas Pimentel, deixou três filhos - Lilian, Marly e Cléia.

De seu segundo consórcio, com Da. Jacy Carvalho do Prado Pimentel, deixou também três filhos - Antonio Pedro, médico oftalmologista como o tio Paulo, Maísa e Luiz Octavio ainda estudantes.

Francisco Pimentel seguindo a profissão do pai, em 1921, prestou vestibular na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, diplomando-se em 1926, com apenas 22 anos de idade.

Professor de indiscutível mérito, exerceu a cátedra por 3 anos na Faculdade Fluminense de Medicina, tendo se aposentado pela Universidade Federal Fluminense em 1969.

A princípio lecionou Clínica Propedêutica Cirúrgica, e, finalmente, substituiu o Professor Maurício Gudin, ficando em definitivo com sua disciplina, Clínica Cirúrgica até sua aposentadoria. Francisco Pimentel lecionou também Urologia em substituição ao Professor Estelita Lins para a turma de 1947, turma a que eu tenho a honra de pertencer. Nessa época ele lecionava Clínica Propedêutica Cirúrgica e Urologia. Exímio desenhista ilustrava suas aulas, sempre brilhantes, com desenhos. Profundo conhecedor da matéria, estava sempre em dia com as mais modernas técnicas operatórias, tornando-se admirado e respeitado pela classe médica e por seus alunos. Suas aulas eram bastante concorridas, uma vez que sua didática era de todos conhecida.

Lembro-me bem de suas aulas sobre fraturas, todos entendiam o porque das fraturas de um osso e onde ocorriam.

Em sua época não existiam as especialidades como nos dias atuais; o médico teria que aprender de tudo, pois bem, os professores também deveriam ensinar de tudo, com isso Francisco Pimentel se realizava, era um homem que gostava de fazer um pouco de tudo e o fazia como bem poucos eram capazes.

O ensino médico era seu ponto alto, além da Cirurgia Geral. Participava de quase todas as bancas examinadoras relativas à Cirurgia ou especialidades afins. - Quase não deixou nada escrito, mas, contribuiu para o ensino médico, operando em aulas demonstrativas examinando. Criou mais um sinal de diagnóstico idealizando uma linha que recebeu seu nome, nos casos de apendicite aguda.

Introduziu nesta cidade e antigo Estado do Rio, o Serviço de Anestesia Geral com Custodio Esteves Netto.

Fez um trabalho muito raro sobre "ESTRANGULAMENTO TO RETRÓGRADO EM HÉRNIAS INGUINAIS", creio que 6 casos, quando até então só existiam 2 casos no mundo. Esperava ele alguma crítica ou referência e nada foi feito. Talvez por isso deixasse de publicar seus trabalhos, pois tinha casos lindos e raros, mesmo assim não publicava. Gostava de descrever métodos cirúrgicos e também de aplicá-los em seus pacientes, sempre porém, dando ênfase ao ensino.

Francisco Pimentel dava cursos particulares de Clínica Cirúrgica com aplicações práticas para médicos; de quando em quando fazia menções a seus melhores discípulos, como foram os casos de Mano Monteiro e de Nelson Sá Earp, para citar dois de nossos acadêmicos. Eu tive a honra de ajudá-lo, em pelo menos, 5 desses cursos. Ele primava pelo respeito aos tecidos, não aceitava os traumatismos praticados pelos cirurgiões, sua tônica era, traumatizar o mínimo possível os tecidos, não suportava que se fizessem frações exageradas, principalmente nos tecidos nervosos e órgãos friáveis; não usava pinças traumatizantes, preferindo usar os dedos como pinças e segurar as vísceras com gazes, ao invés de pinças próprias.

Os nós em cirurgia tinham sua constante vigilância também.

Francisco Pimentel poderia deixar seus ensinamentos por escrito, porém, apesar de não fazê-lo, deixou sua escola cirúrgica difundida entre seus discípulos.

Brigou certa vez, com um colega, chefe de Cirurgia, por esse motivo e em meu favor, quando, como seu discípulo, fui forçado a desobedecer as ordens daquele chefe, aplicando seus ensinamentos.

De outra feita deixou d traduzir o tratado de Patologia Geral de Dr. José E. Igarzábal, por não concordar com alguns termos que lá se encontram, e que mudavam o sentido em nosso idioma. A Editora tentou demovê-lo e nada conseguiu, gostava das coisas bem feitas e corretas principalmente, em Medicina.

Uma plêiade enorme de cirurgiões beneficiou-se com os ensinamentos desse notável mestre da Cirurgia; aqui mesmo em nossa Academia, além de Mano Monteiro e de Nelson Sá Earp um grande número de acadêmicos recebeu dele cursos ou aulas, porém conviveram com ele por maior tempo; seu predileto auxiliar de cirurgia e assistente particular em sua clínica - Nadir Coelho e posteriormente eu. Além de nós dois, Othon Vieira, Giuseppe Mauro, Geraldo Rocha Motta e outros que não fazem parte de nossa Academia como Walter Varella Kastrup, hoje professor de Urologia.

Francisco Pimentel chefiou no velho Hospital São João Baptista a 4ª Enfermaria (homens) e também a 10ª Enfermaria (mulheres) em regime de rodízio com seu estimado mestre Ernani Faria Alves, professor que mi-. ciou os ensinamentos de cirurgia em Niterói, hoje patrono de nossa Academia. Com a extinção do Hospital São João Baptista, a transferência feita para o Hospital Antonio Pedro, ainda perdurou por algum tempo o mesmo sistema do velho São João Baptista, porém, neste último hospital, Francisco Pimentel só não foi seu Diretor, foi de simples cirurgião ao mais elevado posto - Diretor de Divisão de Assistência Médica - Chefiou o Centro Cirúrgico, foi chefe de Cirurgia, chefe do Pronto Socorro fez parte do seu Conselho Deliberativo.

Em 1942 organizou o Controle Médico da Prefeitura Municipal de Niterói, dirigindo-o em 1945, chefe do Serviço de Cirurgia do Hospital Luiz Palmier de São Gonçalo também em 1945, Médico Honorário da Associação dos Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro em 194. No início de sua profissão foi cirurgião do Pronto Socorro de Niterói, onde trabalhou por muitos anos, aposentando-se pela Prefeitura Municipal de Niterói após mais de 35 anos de serviços prestados ao município.

Em 1939 presidiu por um período de 3 meses apenas a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Niterói, hoje Associação Médica Fluminense.

Sua gestão foi interrompida por haver sido preso, seu crime, pertencer ao Partido Integralista. Francisco contava passagens interessantes de quando esteve detido junto com seu amigo Paulo Gouvêa.

Embora sem pendor político, elegeu-se vereador por Niterói, granjeando expressiva votação de seus amigos e admiradores.

Poeta de grande sensibilidade e técnica, profundo conhecedor de nosso idioma, foi membro da Academia Fluminense de Letras, cadeira n° 31, cujo patrono é Paulo da Silva Araújo. Publicou um livro de poesias "IMAGENS DA VIDA", edição da Livraria Universitária, que mereceu da crítica os maiores louvores.

Teve seus versos publicados em vários jornais fluminenses. Pronto para o prelo deixou "As Fábulas de Lafontaine", em sonetos, e, ainda, as fábulas de nossos índios, em redondilha maior, fez a letra da música do maestro Eduardo Souto, gravada por Silvio Caldas "Despertar da Montanha".

Seus versos figuram em "Trovadores do Brasil" e "O Grande Rei", ambos os livros coletados por Aparício Fernandes e publicados pela Editora Minerva, em "37 Poetas Fluminenses", edição "Letras Fluminenses", em "Os Mais Belos Poemas Que o Amor Inspirou", organizado J. G. de Araújo Jorge, editado pela Vecchi; e em "Paisagem Fluminense" de Jacy Pacheco, edição da Imprensa Oficial (R.J), com muita verve e malícia escreveu, ainda, "Salgadinhos e Sal Grosso", e "Questões de Semântica", livros interessantíssimos no gênero. O Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural da P.M.N. prestou-lhe uma homenagem publicando Antologia Poética de Francisco Pimentel de onde tirei este final de sua biografia.

Os municípios de São Gonçalo e de Niterói onde sempre trabalhou, prestaram homenagens a Francisco Pimentel, dando seu nome a uma rua em cada município.

Sempre que acontecia um fato importante em sua vida, Francisco me telefonava e fazia questão de minha presença em seu consultório para uma conversa ou um desabafo.

Certa vez telefonou-me pedindo para eu passar lá, e, ao chegar, recebeu-me como de costume, com uma cumbuca de balas, pois sabia que eu gostava disso, de pois que nos servimos, disse-me: - Guasti, me dá um abraço, hoje consegui tirar o Silvestre do meu nome, pois ele se chamava Francisco Silvestre de Almeida Pimentel, com a retirada do Silvestre ele ficou realmente eufórico, preferindo ainda ser chamado apenas de Francisco Pimentel.

O Professor Ernani Alves só o chamava de Chico, assim como pessoas mais íntimas o chamavam carinhosamente, porém, seus filhos e Jacy, Edyne, Walter Kastrup e outras pessoas bem mais íntimas, tratavam-no de Fapito, apelido que ele gostava na intimidade de seu lar; por sua vez Alda Menescal gostava de chamá-lo de Pimentinha, assim como Chefferino o chamava de Cardeal, pois bem, essas brincadeiras eram próprias de sua vida, motivo pelo qual fiz menção aqui.

Francisco era muito irrequieto e, por ocasião de suas doenças era difícil mantê-lo em tratamento correto. Por duas vezes teve enfarte do miocárdio e uma vez hepatite por vírus.

Em 15 de maio de 1971 faleceu no Hospital Sta. Cruz, após ter sido operado de peritonite aguda por mim e Mano Monteiro, em consequência de cirrose hepática.

Fez questão absoluta que eu o operasse, dando-me essa grande responsabilidade da qual não eu pude fugir, porém, ao lado de Mano Monteiro e de Nadir Coelho, pude executar a mais difícil tarefa de minha vida profissional, sem entretanto, alcançar o êxito desejado.

Desta casa saiu seu corpo onde fora velado, sendo conduzido para o Cemitério do Maruí, e colocado na mesma sepultura do seu pai e do irmão mais velho.

Francisco Pimentel foi uma figura humana muito marcante. A inteligência acima do normal, a simpatia pessoal e a sua sensibilidade, fizeram desse homem uma personalidade que engrandeceria qualquer profissão.

A classe médica ficou com o privilégio e a honra de poder contar com sua contribuição.

Na homenagem desta noite ao amigo, permitam-me brindar a todos, com algumas poesias de quem estará sempre presente.

 

SALGADINHOS

 

CONVITE

Vamos contar, coração,

De um modo uni tanto indiscreto,

Eu, os taquinhos do chão,

Tu, as taboinhas do teto?

 

MAU CAMINHO

Quando me mostras, sentada,

Teus joelhos, num sorriso,

Vislumbro a curva da estrada

Que me leva ao paraíso...

 

DESPEITO

Há moças que a muito custo

Tentam ser bem modeladas,

Contudo, a inveja de um busto,

Mostra que são... despeitadas.

 

TRANSPOSIÇÃO

Quando pões uma calcinha

Para secar na janela,

Vendo-a sem dona e sozinha

Penso na dona sem ela ...

 

PRECE

Meu Santo Antônio querido!

De tão bondoso que sois,

Dai-me um homem por marido,

Que os outros virão depois

 

DESPREZO

Senhores! Que valem pernas?

Lança o amor, quando exaltado;

Por mais doces, por mais ternas,

Uma pra cada lado

 

LUA NOVA

A Lua, de vez em vez,

Por ser mulher certamente,

Também se esconde da gente

Uns quatro das por mês

 

EXPLICAÇÃO

Dão-se à noite, os nascimentos,

Na maioria das vezes

Porque, de noite, os rebentos

Completam seus nove meses.

Mas se virem, por acaso,

Nascer de dia um bebê,

Com certeza, nesse caso,

Houve alguma matiné

 

NOSSA VIDA

Nada disseste e eu nada disse. Um dia,

Alguns olhares, gestos naturais

De quem se encontra, e mútua simpatia

Nasceu entre nós dois e ... nada mais.

 

Nada disseste e eu nada disse. Um dia,

Algumas frases, dessas bem triviais,

De cumprimento, e simples cortesia

Surgiu entre nós dois e ... nada mais.

Nada soubeste e eu nada soube. Um dia,

Sem descobrirmos as razões reais,

Uma suspeita o mundo traduzia

Em torno de nós dois e ... nada mais.

 

Nada quiseste e eu nada quis.

Um dia, Sem que explicar pudéssemos jamais,

Houve um beijo, suspiros de agonia,

Um céu para nós dois e ... nada mais.

 

TROVAS

A minha felicidade

Foi um mito, e apenas vive

Refletida na saudade

Da esperança que já tive.

Bem junto de meu ouvido,

Disseste um segredo, um dia

E decidi, comovido,

Que se chamasse Maria

Nesta vida de agonia,

Neste mundo de surpresa,

Há quem chore de alegria

E há quem cante de tristeza!

Minha saudade se queixa

Que não gosta de você,

Por isso, logo me deixa

Assim, querida, que a vê.

 

Os sinos batem lembrando

Um nascimento em Belém,

E o meu coração pulsando,

Bate, bate por alguém.

 

Saudade machuca a gente,

Mas o faz tão de mansinho,

Que se diz, quando se sente:

"Machuca mais um pouquinho".

 

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Fazendo um voto contrito,

Em sua memória eu diria,

Foi bom falar no Papito,

Com saudade e simpatia.

 

Biografia escrita pelo Acadêmico José Hermínio Guasti.


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