Maurício Gudin




Maurício Gudin

Especialidade:

Acadêmico Patrono

Cadeira: 31

Patrono:


Mini currículo:

Filho do Dr. Eugênio Gudin e de Dna. Carlota Fontes Gudin, nasceu em 13 de maio de 1883, no Rio de Janeiro. Na sua juventude praticou vários esportes, tendo se destacado como remador do Grupo de Regatas Gragoatá. Praticou também, o hipismo, tendo feito pequenas incursões no automobilismo.

Em 22 de maio de 1906, recebeu o diploma de Doutor em medicina, que lhe foi conferido pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil.

Em 18 de maio de 1912, o Dr. Maurício Gudin foi nomeado para exercer as funções de Assistente da 3ª Cadeira de Clínica Cirúrgica, da mesma Faculdade em que se formara 6 anos antes, assumindo o exercício na data da sua nomeação; este cargo ele exerceu até 30 de abril de 1917, quando solicitou demissão, partindo para a Europa em viagem de estudos.

Por portaria de 27 de julho de 1918, foi nomeado chefe do serviço geral comissionado no posto de Tenente Coronel da missão médica especial enviada à França, em caráter militar, conforme faz público o Diário Oficial nº 173 de 28 de julho de 1918. Por portaria de 6 publicada no Diário Oficial de 7 de março de 1919, foi dispensado do lugar em que se achava na Missão Médica Especial, encarregada de manter na França um Hospital Temporário na zona de Guerra enquanto a mesma durasse.

De sua folha de serviço constam vários elogios de autoridades francesas e brasileiras, tendo sido condecorado pelo Governo Francês.

Terminada a Guerra não retornou logo à Pátria.

Espírito sempre ávido de novo conhecimentos, permaneceu na Europa para estudar, aprender, experimentar e até ensinar, sempre impulsionado pelo desejo de aperfeiçoar as minúcias da técnica no difícil ramo da cirurgia.

Fez Maurício Gudin cursos especializados de microbiologia, radiologia, urologia, esofagoscopia, ginecologia e cirurgia geral, quando teve ocasião de mostrar os seus inventos que, muitos louvados e adotados, serviram para simplificar e aperfeiçoar técnicas em vários ramos da medicina; Urologia, Radiologia e, primordialmente, em cirurgia Gastrointestinal.

Maurício Gudin, tinha consciência do seu valor. Comumente fazia públicos seus dotes intelectuais e seus profundos conhecimentos científicos.

Com o seu já enorme tirocínio e cerca de 20 trabalhos científicos originais publicados, além do título de Livre Docente de Clínica Cirúrgica alcançado em 1912 inscreveu-se Gudin, 1918, num concurso público, para conquistar a Cátedra de Clínica Cirúrgica da Faculdade Nacional de Medicina. A tese apresentada intitulava-se - "Meus Inventos".

Os inventos de Gudin, mencionados na tese, eram os seguintes: 1º - Sonda ureteral provida, na extremidade que deve penetrar no ureter, de uma oliva alongada perfurada na sua extremidade e lateralmente, de modo mais apropriado a receber a urina. Esta oliva preenchendo a luz do ureter, evitaria as perdas e urina por fora dela, impedindo assim que a mesma se misturasse na bexiga com a urina do outro rim, o que viria fatalmente acarretar erros na avaliação dos resultados. 2° - Método Asséptico e hemostático de cirurgia gastrointestinal. Este método baseia-se principalmente no emprego de um novo esmagador por GUDIN inventado.

Enquanto que o esmagador de DOYEN e quase todas as pinças cirúrgicas, são alavancas interfixas, o de GUDIN é uma alavanca interpotente. "A experiência nos demonstrou", dizia GUDIN, "a necessidade de ação lenta e progressiva no esmagamento dos vários segmentos do tubo digestivo; é por este motivo que a compressão da nossa pinça esmagadora se obtém por meio de um parafuso, o que impossibilita o cirurgião de fazê-la atuar bruscamente. A ação se exerce com toda a regularidade". 3° - Um localizador guia para, como seu próprio nome indica, localizar com segurança corpos estranhos, facilitando sua extração. Este localizador foi fruto de experiência de GUDIN na 1° Guerra Mundial quando chefiou o Hospital Brasileiro do qual fazia parte também o nosso muito querido e saudoso mestre ERNANI FARIA ALVES.

A tese não foi recebida com simpatia pela banca examinadora, tendo despertado críticas ferinas e injustas, chegando mesmo a haver uma polêmica em jornais leigos (CORREIO DA MANHÃ E JORNAL DO COMÉRCIO). Talvez por isso não tenha GUDIN conseguido o seu intento, apesar do brilhante concurso. Publica então, nova tese intitulada: "DEFESA CONTRA ACUSAÇÕES AOS MEUS INVENTOS", refutando todas as incompreensões de que fora vítima. Em contrapartida, em 1919, obteve o honroso título de MEMBRO DA ACADEMIA NACIONAL DE CIRURGIA DE PARIS. E é GUDIN quem nos fala: "As portas da Academia de Cirurgia de França numa época em que o número de cirurgiões estrangeiros admitidos era muito reduzido me foram abertas de par em par, unicamente pela autoria de trabalhos originais em cirurgia geral (Método asséptico para as operações sobre o estômago e o intestino), em Urologia (sonda ureteral de oliva), em Ginecologia (processo de histerectomia total), em Radiologia (Localização e extração de projéteis).

"Semelhante distinção me foi particularmente grata, não só por se tratar de um dos mais notáveis consórcios de cirurgiões do mundo, como, muito particular- mente, pelo fato que esses mesmos trabalhos acabavam de cerrar-me, na minha Pátria, outras portas, as da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. A mesma semente, caída em mau terreno, dando frutos diametralmente opostos".

MAURÍCIO GUDIN fez parte do grupo de idealistas que, tendo à frente a figura exponencial de ANTONIO PEDRO, fundou a Faculdade Fluminense de Medicina. Nos arquivos da referida faculdade consta da Ata nº 3 (16 de julho de 1925) a sua nomeação para segunda cadeira de Clínica Cirúrgica. Esta nomeação, foi confirmada por Decreto do Presidente do Estado do Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1929. Como professor MAURÍCIO GUDIN, dava importância primordial a exatas e precisas indicações operatórias. Se não, vejamos o programa por ele proposto ao Conselho Técnico da Faculdade, para sua cátedra: "O resultado das intervenções cirúrgicas depende principalmente... dos médicos.

"A eles cabe, em geral, por força de circunstâncias, estabelecer em tempo oportuno a indicação operatória da qual depende o futuro do doente.

"Numa turma de alunos, a proporção daqueles que se destinam a ser cirurgiões de carreira é ínfima. Estes porém, necessitam de um ensino especializado que de modo algum lhes pode ser proporcionado pelas noções que possam adquirir num curso geral de clínica cirúrgica.

Atendendo pois àquela necessidade fundamental do curso de Clínica Cirúrgica feito principalmente para futuros médicos, o estabelecimento das indicações operatórias constituirá o objetivo principal do ensino dessa cadeira".

Corroborando a afirmativa feita acima, citarei uma frase de GUDIN: "A indicação operatória é a parte mais difícil da cirurgia, muito ao contrário do que pensam os leigos, que acreditam que o difícil é, sobretudo, a operação. Não sabem que há excelentes operadores que são péssimos cirurgiões"!

O Professor MAURÍCIO GUDIN foi membro do Conselho Técnico da Faculdade Fluminense de Medicina nos anos de 1931 e 1932.

Posto em disponibilidade À PEDIDO, sem que tivesse sido suprimida sua cadeira reassumiu a Cátedra em virtude do mandato de segurança n° 1.213 concedido por unanimidade pelo Tribunal Federal de Recursos... (DIÁRIO DE JUSTIÇA DE 15 DE JANEIRO DE 1952).

Assinou a escritura de doação dos bens da Faculdade Fluminense de Medicina à União de acordo com a Lei 1.254 de 4 de dezembro de 1950.

Apesar de continuar suas pesquisas e suas viagens, no período de 1919 à 1929 não veio à luz nenhum trabalho de GUDIN.

Como muito bem assinalou ROBERTO FREIRE, "era o trabalho da Siricaria Moris, que depois de esvoaçar transformou-se no bicho da seda e foi tecer o casulo, para nos mostrar a fieira com que era tecida a meada da assepsia integral, até então desconhecida".

GUDIN realizou o velho sonho de PASTEUR que conforme a palavra de PASTEUR VALERY RADOT teve três etapas: LISTER - TERRIER - GUDIN.

Segundo o grande filósofo HENRY BERGSON, "é à força da idealidade que se toma contato com a realidade" e "o realismo está na obra quando o idealismo está na alma".

Pois foi, senhores, o idealismo de MAURÍCIO GUDIN que o fez triunfar, resolvendo o difícil problema da assepsia integral.

GUDIN realizou o seu 1° Bloco Cirúrgico com esterilização total no Hospital são João Baptista, nesta cidade, onde funcionava a 2a cadeira de Clínica Cirúrgica da Faculdade Fluminense Medicina.

No Livro de Ouro da citada Faculdade acham-se registrados conceitos elogiosos de ilustres visitantes. Citarei somente o do Professor MARION, catedrático da Faculdade de Medicina de Paris: "A Faculdade Fluminense de Medicina, possuirá em breve uma sala de operações que servirá de exemplo ao mundo inteiro".

E foi o que aconteceu quando a Academia de Cirurgia de França por iniciativa própria, mandou construir a Sala de Operações totalmente esterilizada, do professor brasileiro, no PALÁCIO DAS DESCOBERTAS DA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE PARIS EM 1937.

Este acontecimento consta da monografia intitulada "LA CHIRURGIE" publicada por A. GOSSET, FREDET E R MONOD, membros da Academia de Cirurgia.

O então Ministério da Educação e Saúde mandou executar uma maquete da sala de operações do Professor MAURÍCIO GUDIN, para figurar no pavilhão do Brasil na exposição internacional de Nova lorque em 1939, acompanhada de pormenorizada descrição no Livro BRAZILIAN MEDICAL CONTRIBUTIONS, o que valeu um DIPLOMA de honra ao Professor GUDIN.

Posteriormente, a referida maquete foi entregue à Faculdade Fluminense de Medicina, pelo Ministério das Relações Exteriores.

LERICHE, professor de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Estrasburgo, ocupando mais tarde a cátedra de Medicina Experimental no colégio de França, cátedra esta ilustrada por MAGENDIE, CLAUDE BERNARD d´ARSONVAL E CHARLES NICOLE, um dos monstros sagrados da cirurgia mundial, fez, perante o ROYAL COLLEGE OF SURGEONS OF ENGLAND, em abril de 1939, uma conferência publicada no "THE LANCET", "BRITISH MEDICAL JOURNAL", e na "GAZETTE DES HOSPITAUX" de Paris fazendo uma completa revisão dos problemas da infecção em cirurgia.

Mostra, LERICHE, como obedecendo a um critério original e graças à invenção de um processo de esterilização total e à criação de um bloco operatório de compartimentos estanques esterilizados, conseguiu GUDIN realizar a assepsia integral e obter a cicatrização PASTEURIANA da ferida operatória, isto é, cicatrização sem micróbios. E conclui dizendo: "operei no bloco estéril do Professor GUDIN. Apesar da exiguidade da sala de operações, cujo teto é constituído por uma parede de vidro, que permite aos espectadores dominar o campo operatório. Está-se à vontade e trabalha- se sem fadiga. O ar é condicionado, a temperatura agradável, o silêncio absoluto e tem-se realmente a impressão de uma grande segurança. Pesei bem todas as objeções teóricas que se poderiam fazer a GUDIN. Nenhuma pode subsistir. É preciso não esquecer que, no tempo de LISTER também achavam que não havia necessidade de mudar coisa alguma na prática da cirurgia, tudo que se fazia estava bem feito - e no entanto, quantos terríveis fracassos. O. problema da assepsia integral interessa ao mundo inteiro".

Os trabalhos científicos originais do Professor GUDIN: Esterilização Total e Infecção Operatória (Boletim da Academia de Cirurgia de França de 10 de julho de 1935), Esterilização Total (Congresso Internacional de Cirurgia de Paris outubro de 1935) e Assepsia Fictícia e Esterilização Total (La Presse Medicale 4 de março de 1936) tiveram grande repercussão mundial pela sua publicação em Revistas de Divulgação Científica como "JE SAIS TOUT" (1 de abril de 1936) e "LE MOIS" (1 de maio de 1936).

Em 27 de abril de 1939 solicitou MAURÍCIO GUDIN inscrição à vaga de membro Titular da Academia Nacional de Medicina, na Seção de Cirurgia Geral. Apresentou a monografia, "ASSEPSIA INTEGRAL E CICATRIZAÇÃO PASTEURIANA". Foram sorteados os acadêmicos CARLOS WERNECK e LINCOLN DE ARAUJO para constituir com o Presidente da Seção, Acadêmico AUGUSTO BRANDÃO FILHO a comissão julgadora que assim se manifestou: "A comissão abaixo assinada julga que o trabalho, títulos e publicações apresentados pelo Professor MAURÍCIO GUDIN, para concorrer à vaga da seção de cirurgia, satisfazem plenamente os requisitos constantes do regulamento da Academia Nacional de Medicina. A comissão dispensa-se de enaltecer o valor científico e intelectual do candidato por ser sobejamente conhecido. Rio de Janeiro 12 de julho de 1939, assinados, BRANDÃO FILHO, CARLOS WERNECK E LINCOLN DE ARAUJO".

O Professor GUDIN foi eleito unanimemente em 22 do mesmo mês de junho, tendo tomado posse em 11 de novembro seguinte.

MAURÍCIO GUDIN, foi sem dúvida alguma, uma estrela de l grandeza na constelação dos grandes vultos da nossa nacionalidade, estrela esta, cujo brilho intenso ultrapassa de muito as fronteiras de nossa Pátria.

Em 14 de dezembro de 1959 sofre a ciência mundial, o nosso País e a Faculdade Fluminense de Medicina uma grande perda - falece MAURÍCIO GUDIN.

 

Biografia escrita pelo Acadêmico José Augusto de Castro.


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