Conto Natalino
11/12/2017 - 00:00:00
O Menino e a Árvore de Natal
Acad. Cláudio Chaves
Titular ACAMERJ Cadeira 23
Era uma vez um menino pobre da periferia da cidade que sonhava em ter em sua casa uma árvore de Natal igual as que via no cinema, nas revistas e nas residências de alguns de seus colegas mais abastados de colégio.
Mas, sua família, por não dispor de recursos não tinha dinheiro para
comprar. Seu pai o único a ter proventos entre os familiares, recebia baixo
salário de professor e sustentava uma legião de mais de trinta pessoas - esposa,
filhos, irmã, cunhados, sobrinhos e outros aderentes.
Esse guri por ser o caçula, embora fosse muito cortejado, era o que mais sentia
as privações econômicas da família, por não ter ainda a capacidade de
discernimento, como a maioria das crianças, e ficava sempre a se questionar por
que alguns têm tudo e muitos, tão pouco?
Os anos iam se passando e sempre a árvore de Natal de sua casa era a
mesma: um garrafão de vidro decorado com vela derretida e pintado na cor prata,
com um galho
Apesar dessas limitações, sua família celebrando o nascimento do menino
Jesus, feliz se confraternizava fazendo a ceia com água decantada no pote de barro
e galinhas de criação própria assadas no fogão a lenha.
Em determinado momento uma empresa de prospecção de petróleo se instala
na cidade onde ele morava e recruta servidores. Aí, então, uma de suas
primas-irmãs vai trabalhar nessa companhia e com isso recebe seu primeiro
salário próximo do período natalino.
É chegado o Natal daquele ano e finalmente o sonho do menino de ver em
seu lar uma árvore de Natal com luzes pisca-pisca se materializa num artefato
sintético de cinqüenta centímetros de altura, que muito embora minúsculo enchia
de satisfação e alegria aquele pirralho e a sua família que habitava numa
modesta moradia de um dos bairros mais longínquos da cidade.
Como se tratava de um objeto precioso, sua instalação ficou programada
para o início da noite do dia 24 de dezembro.
Chegado o momento, ás 19horas, só um porém: na sala de visitas tinha
apenas uma tomada e não havia extensão; o jeito foi fazer a ligação com o fio
esticado
Enfim, não menos que 5 minutos daquela alegria, a gatinha de estimação
amedrontada, salta desesperada, bate no fio, derruba a árvore no chão, as luzes
do pisca-pisca se quebram, instala-se um curto circuito e num átimo aquele
precioso bem se transforma em cinzas, o que levou aquele menino a não querer
participar da modesta ceia preferindo o sono para sublimar a sua frustração.
No dia seguinte, sua mãe vendo-o abatido lhe disse: " - Meu filho, não
fique triste, pois temos coisas mais valiosas - saúde e uma família digna e
honrada -, e você e seus irmãos terão um futuro promissor com o estudo e a
educação doméstica que seus pais lhe proporcionam com muito amor e carinho. Se
Deus não quis que tivéssemos esse objeto é para nos fazer refletir que a
verdadeira felicidade está dentro de nós e nas coisas simples e não nos bens
materiais. Entenda que devemos sempre aceitar tudo com resignação e como
desígnios do Criador, com certeza Ele haverá de reservar algo muito melhor para
todos nós no futuro!?
E assim passaram-se os anos, e vieram muitos e muitos outros Natais com a
mesma árvore de Natal improvisada e de aspecto suigeneris, porém expressando a felicidade renovada daquele lar de
pessoas humildes.
Anos mais tarde, o menino, já adulto, gradua-se em Medicina e logo se
torna professor das Ciências Médicas na Universidade Pública, e sente-se
realizado como profissional, respectivamente, ajudando as pessoas a preservar e
recobrar o dom divino da visão e ensinando os jovens a realizarem seus sonhos
no aprendizado da sublime missão de médico.
Mais de meio século após, nas Academias, entidades das quais ele passou
ser um dos seus titulares, ao contar sua própria história vê ratificar, nos sábios
conselhos de sua genitora, que Deus sempre reserva o que é melhor para todos
nós e que a árvore de Natal que não teve na infância se transformou na floresta
do bem em que passou a dedicar todos os dias a seus semelhantes, em especial às
crianças carentes.
Feliz Natal!